Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio. Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para Discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos...
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturas. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de "confrontação", onde "tiramos fatos à limpo". Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral. Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: "as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos".
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos. Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana. que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a "última hora". não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente com Deus.
Caminhar perto delas nunca será perda de tempo.
Acordar e saber que está atrasado Mas ter certeza de que tem um emprego! Ver a caixa do correio cheia de contas Mas receber uma carta do amigo!
Ter um monte de recados na secretária Mas no meio deles, um que diz: To morrendo de saudades! Ver que no almoço a mãe fez salada de beterraba Mas o prato principal está apetitoso e é o seu preferido! Estar num engarrafamento
Mas ligar o rádio e ouvir a sua música predileta tocando lembrando de alguém especial! Brigar com o cachorro porque ele comeu seu sapato. Mas ser recebido por ele com uma festa todos os dias quando você chega em casa!
É chegar em casa exausto Mas ainda assim ser arrastado pra uma festa por uma porção de amigos!
O tempo chegou trazendo marcas de lembranças. Revivi a vida, reencontrando em mim momentos de você. Sufoquei minha voz na dor de lembrar lembranças absorto. Senti o vento me aproximar da saudade. Meus passos voltaram para
desfilar por lugares vividos, e acariciar sorrisos delirantes que um dia
ornamentaram cenas de amor.
Desfilaram em minha mente e o sopro de saudade procurou meu corpo para se aconchegar. Me aproximei mais para ouvir o grito de saudade trazendo para mim momentos para reviver. Despertei dentro de mim cenas adormecidas. Da primavera, do quarto, com corpos em desalinho ocupando espaços com amor. Vozes felizes e sorrisos ocupando bocas acariciantes.
O vento me empurrou para a última saudade. Traguei meus últimos sussurros me agarrando ao silêncio, e meus pensamentos se perderam na última moldura de você.
Hoje, dia 26 de abril, comemora-se o dia da mais sofrida personalidade dos gramados.
É o dia do goleiro.
Sim, aquele mesmo. O papel que na infância e
ou na várzea costuma ser ocupado pelo último a ser escolhido. Aquele com menos habilidade. Afinal, usar apenas os pés é demais para ele, então o perna-de-pau joga na função onde pode igualmente fazer lambança com as mãos.
Mas no futebol profissional a coisa muda de figura. Ser goleiro é atuar numa função que exige muito treino, dedicação, reflexo, elasticidade e atenção. E ainda um pouco de habilidade, para não bater desespero na hora em que a coisa aperta e tem que sair jogando com os pés.
Não é para qualquer um!
E é uma função inglória: precisa ter uma participação impecável para aparecer com destaque, e precisa de muitos jogos para se tornar um herói. Mas basta uma falha para manchar tudo o que construiu, e tornar-se a segunda pessoa mais odiada do mundo do ludopédio, só perdendo para o juiz.
Não é todo mundo que sabe reconhecer a importância desses gigantes protetores das redes. Mas eu sei! E, dessa forma, deixo aqui belas cenas de participações marcantes de tão importante profissional da bola!
Parabéns, goleiros!
Eu continuo triste! Acabada! Sinto que o mundo ruiu, que o sol virou fogo que não me aquece. Ainda nem acredito que você me enganou de um modo tão frio, tão cruel. Dói – dói demais!
Mas eu não consigo dormir com ódio ou rancor no coração. É por isso que perdoo você! Basta de briga, chega de lutar! Você está desculpado; agora vou reaprender a confiar e a viver de novo, mas sem você. Até um dia! Seja feliz!